sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Eu vou com as aves...



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Poema à mãe de Eugénio de Andrade

No mais fundo de ti,
eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal…

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.


Rosas (a minha primeira aventura a preto e branco):

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1 comentário:

Espaço do João disse...

Feliz daquele que gosta de ver as aves em seu habitat. Não posso conceber fechar numa gaiola quem nasceu para a liberdade.
As flores, também nunca deviam ser colhidas, pois elas apareceram para gaudio de nossos olhos. São inocentes como as crianças e, encontram-se para deliciarmos e radiarmos alegrias. Já estão todos avisados, no meu funeral não quero sacrifícios de flores. Até porque se me fizerem a última vontade serei cremado. Deixemos o que é belo ser apreciado por nossos vindouros. Boa semana com muito trabalho e boa disposiçao. Um beijo. João