sábado, 6 de março de 2010

DESCALÇA VAI PARA A FONTE...

Uma flor singela que me fez lembrar o meu "reino" da Vista-Alegre, e os fectos que me fizeram recordar o Buçaco, também no Distrito de Aveiro.
Penso que cumpri bem a missão e já ontem à noite regressei a Aveiro.

Não foi possível fazer registos fotográficos, mas valeu pelos bons momentos que passei com os meus Príncipes.

A minha "flor" está bem felizmente, e deve regressar, na próxima segunda-feira, à "universidade dos pequerruchos" juntamente com o manito que anda quase a terminar a "licenciatura":-)

Aqui a "faltosa" deverá regressar aos estudos, no entanto quero-vos transmitir que a internet é fantástica, porque consegui acompanhar "les exercices" de Francês, através das mensagens que recebi por correio electrónio.:-)

E no meu "baú" das fotos fui escolher algumas para vos oferecer, (as flores e plantinhas vieram de Sintra) é só mesmo "clicarem" na imagem e copiarem:-)

Agora, com um pouco mais de "calmex" irei então passar pelos vossos "cantinhos" e fazer uns "coments":-)


Não pensem que é o Castelo dos meus Príncipes, mas fica perto do deles. Esta imagem é de um painel de azulejo que existe na Estação dos Comboios (antiga) de Aveiro:-) Esta foquei mais ao lado, também com os óculos cheios de pingos de chuva:-)
Um "tadito" desfocada mas foi a única que fiz, ainda por cima à chuva:-)
Este fecto estava no meio das pedras meio escondidito:-)
Este redondendro sobreviveu ao Inverno, bem que procurei mas só encontrei este:-) Este cacto deve estar a florir e como já tive iguais não me passou despercebido:-)

Esta camélia também era filha única da Japoneira, tinha muitas irmãs, mas estavam ainda em botão:-)


Deixo-vos também este poema que adoro, do nosso grande poeta, em português "arcaico":



Descalça vai para a fonte

Descalça vai para a fonte
Leanor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.

Luís de Camões


Era engraçado se ainda escrevessemos assim não era?:-) No entanto um dia destes com tantas modificações na nossa língua portuguesa, já nem sabemos escrever.

E baseado neste poema de Camões António Gedeão escreveu o Poema da Auto-Estrada:-)


Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta
Vai na brasa de lambreta.

Leva calções de pirata,
Vermelho de alizarina
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa de lambreta.
Agarrada ao companheiro
na volu'pia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio nao e' com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pelo cintura.
Vai ditosa, e bem segura.

Como rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que enterra.
Tudo foge 'a sua volta,
o ceu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demonio com asas.

Na confusão dos sentidos
ja' nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
sao ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.

Fuge, fuge, Leonoreta
Vai na brasa de lambreta.


in "Máquina de Fogo", 1961

Depois encontrei este Diálogo que está "demais" entre Camões e o Gedeão, escrito por Isabel Silva:-)
Luís de Camões - Olá ! Eu sou Luís de Camões e ouvi dizer por aí que andaste a emitar um poema meu que falava sobre a minha bela Leanor. E como se não bastasse transformaste-a numa figura horrorosa, que mais parecia ter saído de um bordel. Nunca ouviste falar nos Direitos de Autor?
António Gedeão - Acalme-se homem. Em primeiro lugar eu não emitei o seu poema. Eu só me baseei nele para escrever um poema mais moderno, que as pessoas desta época possam perceber. Além disso a minha Leonor é muito digna. Vesti-a com a roupa que se utiliza hoje em dia, porque se a descrevesse como o senhor o fez não entenderiam a sua beleza e ainda podiam pensar que ela tinha saído de um convento.
Luís de Camões - Quer então dizer que eu não sou bom escritor e que não descrevi Leanor correctamente? Era o que faltava. Eu nem tinha ouvido falar nas peças de vestuário mencionadas no seu texto.
António Gedeão - Pelo contrário. Considero-o um excelente escritor e para mim é uma honra poder falar consigo. Acho que descreveu muito bem a sua Leanor e todas as situações do poema. Mas tem de compreender que o tempo passou e com ele mudaram os costumes, a fala, o vestuário e muitas outras coisas.
Luís de Camões - Talvez tenha razão. Até acho o seu poema bom, embora não o compreenda bem.
António Gedeão - Como já referi, agora, o uso da linguagem é outro. A maior parte das pessoas não compreendem o meu poema quanto mais o seu que já foi escrito há alguns séculos.
Luís de Camões - Pois é. Já no meu tempo era assim. As pessoas começam a ler, não percebem a primeira estrofe põem o poema de lado e não se dão ao trabalho de o tentar compreender. Há uma coisa que não percebo. Porque é que a sua Leonor anda de motoreta? (não faço ideia do que isso é). Agora já não é costume as pessoas andarem a pé?
António Gedeão - Claro que andamos a pé. Só que já não é hábito irmos buscar água à fonte, porque temos água canalizada. Por isso decidi descreve-la a ir de motoreta para a praia.
Luís de Camões - Se formos a ver o tema do seu poema afasta-se um pouco do meu. O meu poema fala de uma Leanor humilde, que me atrai devido à sua beleza simples e que aos meus olhos é a mulher mais bonita na face da terra.
António Gedeão - Quanto a mim, no meu poema descrevo-a como uma mulher sedutora e provocadora que deixa toda a gente a olhar para a ela por onde quer que passe. Mas devo confessar-lhe que a sua Leanor me agrada mais.
Luís de Camões - Afinal ainda existem bons poetas. Tenho de ir embora. Ando a ver se consigo escrever mais algum poema, mas a idade não perdoa. Espero que tenha uma obra muito vasta. Gostei de o conhecer.


Acharam engraçado? Eu também, é bom começar o dia com bom humor:-))
Desejo-vos um "fantabulástico" fim-de-semana"!!!:-)

7 comentários:

Agulheta disse...

Querida Ana. Olha já me ri como perdida junto ao computador, e como dizes,esta coisa das tecnológicas nos aproximou e ficamos mais próximos com opinião.Os texto e poema estão escritos lindamente,quanto a escrever bem!A partir daqui,não sei o que dirá Camões e Gedeão.Ainda bem que os teus principes ficaram bem,e que a rainha vai de vento em popa para a sua universidade.As fotos mesmo não sendo as do costume,estão lindas,tens nelas o teu olhar.
Beijinho e xi e bfs Lisa

RETIRO do ÉDEN disse...

Amiga Ana,
Que maravilha querida Ana.
Tudo aqui é maravilhoso...realmente viver, é mesmo belo!
Ainda bem que tudo está de volta à normalidade.
"Descalços" ou não tudo irá para a "Fonte dos Saberes", as aulinhas, de todos vós, netinhos e avó.
Beijinhos sinceros
Mer

lis disse...

Ah voltou feliz e radiante por saber que deixou todos bem e também me alegro.
As flores é o prenúncio de uma primavera espetacular que esta a chegar por aí , quero muito que voce tenha manhãs primaveris e distribua com os amigos dias claros, mais quentinhos, com o sol a beijar as flores que certamente irás encontrar e fotografar.
Quero todas pra sentir uma primavera enfeitando o meu outono rsr
Lindas poesias e o dialogo de Gedeao com Camões me fez rir e é
muito bom . Dois bam bam bans das letras!
beijinhos, obrigada da simpatia nos comentários, sinto falta quando nao vens , fiquei dependente rsrs
Bom domingo , beijinhos

Sandra Rocha disse...

Olá amiga.
Assim até parece que a Primavera já veio :)
E é melhor não ires descalsa que está muito frio.
Gostei da homenagem ao nosso poeta :)
Beijinhos.

poetaeusou . . . disse...

*
Ana
que beleza, é tudo lindo,
deixa-me destacar o cacto !
,
conchinhas luzentes, deixo,
,
*

Espaço do João disse...

Descalça vai para a fonte
Lianor pela frescura
Vai descalça e não segura ....

Mariana Emídio disse...

Ana, bela flor
Em Aveiro não há igual
Na melodia de um cantor
Paulinha encantaria Portugal.

Querida amiguinha, adorei as tuas postagens. És uma força da natureza, continua sempre assim, igual a ti própria!!!!
Jinhos de amizade,

Mariana