"Brados de um Ser"
Sou filho de um berço...
Que é feito de palha, e cheira a verdura...
Sou fruto de um Maio...
Coberto de flores, chorando a censura...
Sou eterno gaiato...
Que brinca nos campos, a brincar com nada...
Sou força de um tempo...
Que um dia sorriu, e se fez alvorada...
Sou sonho que emerge...
Por entre o restolho, e se esvai no pousio...
Sou conto sem fadas...
Que avança no tempo, que não se contou...
Sou grito da alma...
Que brada no céu, e cai no vazio...
Sou Poeta que avança...
Por entre o destino, sem saber quem Sou!...
"Borba"
Neste altar descontraído,
Oiço Borba a respirar...
Como um tal sexto sentido
Na ternura do meu lar...
I
Alentejo és caprichoso
De fato longo e matizado...
És primor do teu passado,
Com isso sou orgulhoso...
Teu encanto é vigoroso,
É cantado e é vivido...
Um prazer que é consentido
No pulsar do pensamento...
Como cor do meu alento
Neste altar descontraído
II
Terras... montes e vinhedos,
E velhinhos olivais...
Está plantada em brandos vais,
Entre os bravos arvoredos...
Estendida entre penedos
Que se vendem por bem estar...
No calor do seu pulsar
Levo a luz do meu consolo...
E no leito do seu colo
Oiço Borba a respirar...
III
Os seus braços são bondade,
E seus olhos de menina...
Diz a História a sua sina
E a fonte identidade...
Seu pensar, meiga saudade
No seu peito enaltecido...
Tem no dorso descaído
A razão do seu império...
Que se enfeita de mistério
Como um tal sexto sentido...
IV
Veste as hortas da ribeira
Num colar alvo e castiço...
Demonstrado no seu viço
E na face mais trigueira...
A viver desta maneira,
Mostra o dom do seu pensar...
Com o vinho a germinar
Pelas veias desta gente...
É como um lindo presente
Na ternura do meu lar...
"Carimbo negro"
Criança que és bela,
Sem nome nem raça...
És um ser que passa
Nesta vida singela...
I
Beldade inocente,
O sofrimento a consome...
Sem rumo, com fome
Na sociedade doente...
Dizem que és gente
Sem norte nem estrela...
Esta criança é aquela
Que não tem futuro...
Mergulhada no escuro,
Criança que és bela...
II
Tão terna, tão pura,
Tão cheia de vida...
De cabeça erguida
Derrama frescura...
Segue esta aventura,
Cresce na morraça...
Na rua e na praça,
À chuva e ao frio...
É só um vadio
Sem nome nem raça...
III
Não sabe brincar,
Tem outro juízo...
Falta-lhe o sorriso
Para se alegrar...
Já farto do azar
Que sempre o abraça...
É gente sem graça
Que é ignorada...
Consciência pesada,
És um ser que passa...
IV
Passa pelo mundo
Que é tão desigual...
Ou é marginal,
Ou é vagabundo...
É sempre segundo,
Eterna mazela...
Chora na viela
Pelo que não tem...
É sempre ninguém
Nesta vida singela...
António Prates
(In Sesta Grande)
Esta pequena homenagem é dedicada ao meu amigo António, um grande poeta, que o Alentejo viu nascer. Tenho imensos poemas dele, apesar de gostar de todos, escolhi estes três. Um grande beijinho de amizade para ele e o desejo de muitas felicidades extensível a toda a sua família.
António Prates, nasceu em Borba e apresentou o seu livro “Sesta Grande” em 2006, editado no final do ano anterior, com o apoio da Câmara Municipal de Borba, e reúne mais de cinquenta poemas dedicados a temas como Borba, a mulher, os amigos, a natureza, a guerra, o amor, entre tantos outros mais.
A seguir publico algumas fotos (Monsaraz e Castelo de Vide) cedidas pelo meu amigo Mané que também gosta do Alentejo e esteve lá há pouco tempo e de quem recebi o seguinte e-mail (parece que estava a adivinhar que precisava de ilustrar este espaço dedicado ao Alentejo de que gosto tanto!):
Olá!
Chegamos ontem de uma viagem curtinha ao Alentejo. Como não podia deixar de ser, muitas fotos foram tiradas. Aqui te deixo uma ou duas para o teu blog, se achares que são merecedoras de figurar nele. Beijinhos
(Quero referir aqui que já fui muito feliz no Alentejo, como diz o Malato!)