quarta-feira, 18 de março de 2009

BIBLIOTECA - APRENDER E GOSTAR DE LER


A Bibioteca Municipal de Aveiro - edifício do antigo Magistério Primário (imagem tirada antes da minha máquina, avariar e voltar outra vez para o estaleiro) :-(



A minha amiga Cristina Fidalgo, uma linda, simpática e jovem Aveirense, que lecciona a disciplina de Português, numa localidade mais a norte da nossa cidade, adicionou há umas horas, no Blog dela, que iniciou em Março de 1999, este texto fantástico (escrito com alguma palavras abreviadas como é costume usar-se em mensagens) manifestando assim uma escrita moderna, apreciada pelos nossos jovens.:-)

Um beijinho muito especial para ela, como forma de agradecimento, pelo seu especial contributo, com este, outros textos e poema, que adicionei recentemente no meu Blog.

Gostava que visitassem o Blog da Cristina, vão gostar!


http://osorrisodalua.blogspot.com/



Um dia aprendi a ler...

Como alguns de vocês sabem, sou professora de Português. Mas tb sabem que quando entro nesta seara, onde as sementes vão crescendo, nem me lembro que o sou. Entro aqui sem estatuto profissional, apenas como alguém para quem as palavras são tesouros! Se hoje me refiro a este pormenor é, apenas, porque gostava de partilhar convosco o que me levou a gostar tanto do que faço... Partilhar o que se gosta é um dos meus princípios de vida. Apenas por isso o faço e, se de entre vós, conseguir que apenas um/a fique a gostar um pouco mais de misturar estes pequenos símbolos, a q se convencionou chamar de letras por forma a criar pequenas e simples palavras, que às vezes dizem coisas tão importantes e tão grandes, então darei por bem empregue o pedacinho de vida que dediquei a este canto e a esta mensagem, em particular!...

Ao longo do meu percurso escolar fui sempre uma aluna muito pouco brilhante a Português. Lia as obras que me impunham apenas por obrigação e somente quando não conseguia encontrar os seus resumos, ou um colega que me desse apontamentos já redigidos. Tudo me parecia insípido e maçador: legados velhos, que outros tantos velhos tinham deixado como herança _ daquelas heranças que, depois de arrumado o sótão, apenas um décimo do seu espaço fica ocupado por algo que minimamente se aproveite.
Não sou, nem nunca fui, materialmente ambiciosa por isso também esta herança pouco me dizia.
A par de tudo isto, nunca um professor de Português me tinha falado da sua disciplina com um pequeno brilho que fosse, no olhar!

Um dia, porém, vi-me na eminência de perder um ano da minha vida, apenas pq não conseguia entrar para o 12º ano se n completasse o 11º... e faltava-me apenas passar a Português!!!!
Contrariada, aceitei a única solução apresentada pelo meu pai e à qual n tinha meios de fugir: Explicações durante o Verão!
Claro que me senti a mais infeliz das criaturas quando imaginei a troca da praia pela casa do explicador, a toalha pelos livros e o mar por um quadro negro. Além de q tudo isto significava um enorme deficit nas minhas horinhas de namoro apaixonado... Mas, como contra factos não adianta argumentar e o meu pai era um doce, mas não admitia "mas", lá fui eu, mais triste que os tristes, num dia lindo de sol e de calor em q até os pobres passarinhos pareciam gozar com a minha cara.
O explicador era um Sr. já idoso, com uma linguagem erudita e tão feio q metia dó!... Mas tão lindo por dentro q dava gosto ouvi-lo!...
Não foi preciso mais do q uma explicação para q a ideia de suplício se esfumasse e em seu lugar nascesse uma grande admiração pela palavra. Aquele homem vibrava quando falava de Almeida Garrett, Eça de Queirós, Aquilino ou Junqueiro e todos os tais velhinhos que afinal começavam a não me parecer tão “chatos” assim...
O professor Jaime Vilar, assim se chamava aquele "artista das palavras", sorria por cada um dos seus poros quando falava, falava como quem respira, e fazia-me sonhar! Em cada obra que me ensinava, embrenhava-me nela como se eu fosse uma das personagens. Eu pousava os meus olhos nas páginas dos livros e entrava nelas de corpo e alma, vivendo cada uma daquelas vidas como se fossem minhas.
Quando acabava a explicação, sentia até pena... consolava-me apenas o facto de ter à minha espera, do outro lado da ria, um outro olhar brilhante e, desta feita, que brilhava por mim...

Chegado o exame, provei àquele homem q tinha valido a pena ter-me ensinado a ler um texto nas linhas e nas entrelinhas e, sobretudo, o ter-me ensinado a ler o q nem nas entrelinhas está...

Quando lemos um pedaço de escrita, não nos basta ler as palavras. Para desfrutarmos verdadeiramente do q está escrito, basta-nos tão-somente tentar imaginar os olhos do seu escritor tentando assim ler-lhe a alma. Na alma, sim, nesse pedacinho de nós e dos outros, que nem sabemos bem onde se encontra, está o princípio, o meio e o fim de qualquer história que nos é narrada, apresente-se ela sob a forma que se apresentar. Se nos limitarmos a juntar as letras e a repetir interiormente as palavras que alguém escreve, perdemos a alma do que nos quis dizer ou até daquilo que nos quis esconder...
Compreendendo tudo isto, eu concluí que me basta um livro ou apenas um lápis e um pedaço de papel para nunca estar só!
Foi nesse momento q resolvi ser professora de Português. Não almejo perfeição... essa só a quero em pequenos momentos, mas ficarei feliz se um dia souber que um aluno meu se apaixonou pelas palavras, como eu me apaixonei... se de alguma forma eu tiver contribuído para que alguém tenha aprendido a não estar só. Alguém cujo olhar emane brilho ou derrame lágrimas ao ler ou escrever o q quer q seja!...

Um beijo aos dois homens q me ensinaram a ler: o meu pai e o prof Jaime Vilar (onde quer q estejam!)


Cris (Do Jardim da Minha Alma)

7 comentários:

PreDatado disse...

As melhoras da sua máquina fotográfica. Uma palavra de simpatia à Crsitina pelo texto.

Ana Sofia V. Sousa disse...

Acreidto que estaria aí muitas vezes.

Biblioteca muito acolhedora pelo que parece :)

Nuno de Sousa disse...

Mais um belo trabalho e uma boa leitura por aqui, mais um post bem estruturado por ti amiga Ana...
Obrigado teu comentário sempre bons, ando mto ausente nos comentários e visitas tenho andado a organizar uma exposição que me tem levado mto tempo :-)
Um bjoca enorme,
Nuno

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDA ANA, MINHA AMIGA DO CORAÇÃO... ADOREI A TUA POSTAGEM E O TEXTO DA CRIS MUITO BOM... GRATA AS DUAS... UM ABRAÇO DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA

Agulheta disse...

Olá Ana! então a máquina se foi...espero que não pois as fotos que aqui publicas são muito belas e bem tiradas,quanto as palvras bem escritas e com coração de quem entende a forma do poeta escrever,parabéns para a amiga,e para ti que o publicas-te,quanto ao blog eu lá vou ver.

Beijinho,mandei maill mas o meu tempo tem sido pouco.Lisa

:.tossan® disse...

Confesso, preciso ler mais... Belo texto. Gosto de fotos de lugares públicos e culturais. Mostra bem a arquitetura. Beijo

mayedoguiito disse...

eu amei o seu texto eu vou começar a estudar para mim ter um futuro melhor vou me inspirar no seu texto
assim quem sabe eu nao consigo aprender a gostar de ler :D

Obrigada por ter me inspirado a estudar mais